Ontem fomos ao velório de uma senhora que faleceu aos 83 anos, moradora de um sítio no Nossa Senhora da Vitória, antes mesmo da formação daquele bairro. Muito conhecida e querida, a casa estava completamente lotada quando chegamos. No recinto onde o corpo estava sendo velado ocorria um culto, com a participação de dois pastores evangélicos.
Não conseguindo adentrar ao recinto, fomos gentilmente agraciados com duas cadeiras e nos sentamos na frente da casa, ouvindo a pregação e os cânticos. Desde quando chegamos, percebi a presença de um senhor, que chorava muito, cuja fisionomia demonstrava um alto teor de álcool na corrente sanguínea.
Durante a cerimônia religiosa, o bêbado forçou a passagem e entrou na sala, “cantando” e “gesticulando” na tentativa de acompanhar os que efetivamente participavam do culto.
Em determinado momento, o pastor perguntou: “Quem aqui quer aceitar Jesus?”. Creio que não preciso dizer o óbvio. O bêbado de imediato gritou: “Eu!”. O pastor então disse: “Responda o que perguntar”. O sujeito respostou: “Responda o que perguntar”. O pastor: “como é seu nome?”. O bêbado: “como é seu nome?”. Daí em diante o pastor desistiu de convencer e converter o sujeito, voltando a atenção às orações pela alma da finada.
Quando o féretro saiu, com muitas lamentações e choro, tomamos o rumo do cemitério São João Batista, no Nelson Costa, decididos a esperar o cortejo na porta do campo santo, ao lado do portão principal.
Minutos depois, o carro funerário se aproxima e faz a curva em direção ao mercado da zona sul, parando em frente ao portão lateral. Rapidamente nos dirigimos para alcançar em tempo o cortejo. Para nossa surpresa, o jazigo da família estava localizado a três metros do portão. Ficamos aguardando na entrada a chegada do caixão, conduzido por quatro homens, quando percebi que o bêbado estava segurando a alça da frente. Ao transpor o portão, o coveiro indicou o caminho e disse: “a sepultura é aqui, podem assentar o caixão”. Quando percebeu que o caminho a ser percorrido era curto, o bêbado clamou: “Tão perto! Vamos dar uma volta lá por cima!”.
Não deu tempo de sair para gargalhar. Ri na frente da finada e seus familiares.
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