Rua dos Portões, 68Me recordo perfeitamente das "estórias da Carochinha" contadas por meu avô Nazal, homem simples e sem estudos, que enfrentou o Atlântico "fugindo da fome e da guerra", na sua vinda da Síria, no início do século XX.
Hoje, tenho tido a chance de contar ao meu neto, João Pedro, novas "estórias da Carochinha". Tenho dito a ele: ' era uma vez uma cidade que se chamava Ilhéus, que tinha um patrimônio histórico e cultural rico, mas que aos poucos foi sendo dilapidado, foi sendo destruído em nome do progresso e da modernização'.
Mostro para ele velhas fotografias, que registram a grandeza do passado, apesar de todos os pesares. Como ele agora está crescendo, vou pelas ruas mostrando os lugares onde existiam belas casas, velhos prédios...
Hoje, tristemente, mostrei a ele uma fotografia de uma casinha, que ficava na rua Manoel Vitorino (agora rua Dom Valfredo Tepe), cujo número na parede era 68. Até poucos dias ainda estava com a fachada de pé. Agora está no chão.
Digo para ele que não perca a esperança, pois haverá de chegar o dia em que as leis serão cumpridas por todos: pelos governantes, pelos juízes, pelos promotores e pelos cidadãos, enfim, pela União, pelos Estados e pelos Municípios. Espero ter forças para ver chegar esse dia. Se existe o Dia de São Nunca, outros dias também virão. Depois que mostrei a foto da casinha, mostrei o tapume que escondia a casa derrubada.
Oxalá não percamos a esperança!